TATUAGEM UNDERGROUND
E ARTE SUBVERSIVA

Cybersigilism: Do místico ao cyberpunk

Embora o Cybersigilism compartilhe raízes culturais com o Cybertribal, os dois estilos seguiram caminhos estéticos diferentes ao longo do tempo. O próprio nome Cybersigilism já dá uma dica do que esse estilo representa: uma fusão entre antigos sigilos e runas com a estética moderna do Cyberpunk. Ele se apropria de símbolos que remontam à antiguidade, reinterpretando-os na linguagem visual do século XXI.

Esse design é fortemente inspirado pela arte gótica e barroca, utilizando elementos intricados e elegantes, com detalhes que parecem jóias gravadas na pele. As tatuagens dentro desse estilo frequentemente possuem linhas finas, vazados detalhados e o efeito de tatuagem quase ornamental, como adornos da era digital.

Ornamental X escritos

O estilo mais popular de Cybersigilism é o ornamental, mas também existe uma vertente que foca na reinterpretação de antigas escrituras e símbolos. Esses símbolos, que no passado eram usados em rituais ou como amuletos de proteção, agora são atualizados com uma estética digital e cibernética.

Esses sigilos digitais, são vistos não apenas como ornamentos corporais, mas como portadores de poder. Algumas pessoas  veem essas tatuagens como talismãs, acreditando que eles têm a capacidade de abrir novos caminhos ou de oferecer proteção espiritual no mundo tecnológico em que vivemos.

Quem foram os pioneiros?

Aingel Blood

Quando conheci o CyberTribalism, havia poucas pessoas envolvidas nesse movimento. Minhas referências iniciais vieram principalmente de artistas estrangeiros que usavam hashtags como #cybertribal e #cybertattoo. Até que, eventualmente, me deparei com uma hashtag diferente: #cybersigilism. Foi assim que encontrei a artista @aingelblood, cujo perfil de tatuagem tem exatamente o nome @cybersigilism.

Em 2020, AingelBlood começou a fazer suas primeiras postagens no Instagram, e seu trabalho inicial de cybersigilism trazia uma estética muito mais próxima do tribalismo clássico dos anos 90. No entanto, desde o começo, suas peças já transmitiam uma energia mística inexplicável que viria a definir seu estilo. Uma característica que se tornou marca registrada dela foi tatuar em seios falsos, semelhantes aos usados por drag queens, uma escolha que está alinhada com sua identidade trans e suas explorações no campo da arte performática. Além das tatuagens, Aingel também se destaca por customizar roupas, criar arte digital em 3D e pintar acessórios.

Em 2024, AingelBlood iniciou uma nova fase em seu trabalho, começando a integrar elementos de escrita em suas tatuagens. Essa fusão entre o cyber-tribal e o cyber-sigilism, tanto no estilo ornamental quanto com a adição de textos, consolidou ainda mais sua versatilidade e domínio dos estilos. Ao combinar diferentes vertentes do cybertribalismo, ela se tornou uma artista que encapsula as diversas facetas desse movimento, criando uma linguagem única e visualmente poderosa.

No entanto, o artista que deu início ao estilo ornamental do cybersigilism, permanece desconhecido, mas é quase certo que o termo “Cybersigilism” foi uma criação da própria Aingel.

Prótese de seios tatuada por AingelBlood em seu estilo

Botas customizadas por AingelBlood

Arte digital 3D por AingelBlood

Georgios Kazakis

Georgios Kazakis, conhecido por seu estilo único de tatuagens, é um artista de perfil discreto, quase low profile. Ele raramente fala sobre seu estilo ou compartilha descrições detalhadas de seu trabalho, preferindo deixar que suas obras falem por si. Suas criações, que ele denomina como ‘scripture’, são intuitivas e parecem formar uma linguagem própria, fluida e envolvente. As tatuagens contornam o corpo das pessoas de maneira orgânica, com uma estética que lembra caligrafias árabes, combinando leveza e uma sutileza impressionante.

A jornada de Georgios como tatuador começou de forma diferente. Em 20 de outubro de 2017, ele fez sua primeira postagem no Instagram, apresentando pinturas digitais e desenhos feitos à mão, aplicados com canetinha em amigos. Ele oferecia designs completos de tatuagens sem restrição criativa, ainda experimentando com estilos e temas. Nessa época, as tatuagens que ele fazia incluíam não apenas escritas, mas também figuras como elefantes e Budas, conforme os pedidos das pessoas que ainda não estavam familiarizadas com seu estilo.

Foi só em fevereiro de 2019 que Georgios começou a focar mais nos sigilos, introduzindo essa estética mais fluida e orgânica em seu trabalho. Com o tempo, ele passou a desenvolver sua própria linguagem visual, se afastando das formas mais quadradas e retas que lembravam runas, e migrando para algo mais delicado e instintivo. Seu perfil no Instagram começou a refletir essa transformação ao longo de 2019, quando ele gradualmente foi abandonando o figurativo para dar mais ênfase às escritas e aos sigilos que hoje são sua marca registrada.

O movimento é um elemento central na arte de Georgios. Em muitos de seus vídeos e fotos, os modelos são mostrados dançando ou fazendo poses gestuais, trazendo uma sensação de vida e fluidez às tatuagens, criando uma conexão profunda entre a arte e o corpo. Essa integração entre os gestos e as ‘escrituras’ confere um aspecto altamente artístico e poético ao seu trabalho, tornando-o ainda mais fascinante de se observar.

Inspiração para muitos

Fiquei fascinado com as tatuagens do Georgios Kazakis, pois elas me lembravam muito a língua persa, algo que já despertava meu interesse desde a época da faculdade, quando conheci um iraniano que estava fazendo doutorado. Ele sempre me ensinava algo sobre sua língua e cultura. Apesar de nunca ter compreendido totalmente a construção do idioma, eu gostava muito do design das letras e até escrevia algumas coisas em persa na parede do meu quarto.

Primeiro, me inspirei no Georgios e tentei criar minha própria língua, mas logo percebi que isso exigia muito conhecimento técnico, algo que eu não dominava nem em português. Depois, ao assistir vídeos de como ele criava os sigilos, sem se prender a significados literais ou a uma linguagem concreta, passei a entender melhor o processo. Ele intuía as formas de maneira livre, criando desenhos que pareciam runas, e foi então que comecei a me desapegar da ideia de criar uma língua real ou fictícia. A partir disso, comecei a construir meus próprios sigilos de forma instintiva, permitindo que as ideias surgissem de maneira orgânica durante o processo de criação com o cliente.

Com o tempo, comecei a notar outros artistas que também estavam incorporando escritas em suas tatuagens, e olha que interessante: todos eles seguiam o @giorgos_kazakis no Instagram.

O Cybersigilism se destaca por sua aparência única, frequentemente combinando o gótico com o futurista. O resultado é uma estética que mescla designs que são ao mesmo tempo atemporais e vanguardistas. Essa fusão de estilos é o que diferencia o Cybersigilism de outros movimentos artísticos do [Cybertribalism], como o [CyberTribal].

Apesar de compartilharem a mesma base subcultural, os dois estilos evoluíram de maneiras distintas. Enquanto o CyberTribal tem uma abordagem mais próxima dos tribais dos anos 90, o Cybersigilism aprofunda-se na simbologia mística.

Para muitos, essas tatuagens são mais do que apenas arte corporal – elas são expressões pessoais, quase como “runas digitais”, que simbolizam a nova era tecnológica em que vivemos. Esse estilo é uma evolução contemporânea dos antigos símbolos e sigilos, reinventados através de uma lente cyberpunk e gótica. Ele oferece uma maneira única de se conectar com o passado e o futuro ao mesmo tempo, criando uma nova forma de expressão artística. 

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