Neotribal: A tendência dos anos 90 e a influência de Leo Zulueta
Quando pensamos em tatuagem tribal, logo lembramos das famosas tribais de chiclete, trampstamps e tribais de braço do clubbers e marombeiros. Elas ficaram populares nas décadas de 90 e 2000, e são chamadas de NeoTribal. Mas de onde veio esse estilo? Nesta matéria, vamos explorar como esse visual se tornou um fenômeno global e os fatores que levaram à sua saturação e perda de popularidade nos anos seguintes.
Como a tatuagem tribal dos anos 90 surgiu?
O NeoTribal, ou New Tribal, foi um movimento de tatuagem que ganhou fama no final do século 20. Leo Zulueta, considerado o ‘pai da tatuagem moderna’, foi o principal precursor. Criado no Havaí, ele tinha forte conexão com tradições tribais do Pacífico, principalmente as da sua herança filipina.
No Havaí, Zulueta percebeu que muitos nativos tinham abandonado suas tradições de tatuagem. Ele se inspirou a reviver essas práticas, adaptando-as ao mundo moderno, mas mantendo respeito pelas origens.
Nos anos 70, Zulueta adaptou padrões tribais para o público ocidental. Ele mergulhou no estudo das culturas do Pacífico, como Samoa e Borneu. Além de observar os designs, buscou entender o significado espiritual e cultural das tatuagens.
Essa compreensão influenciou fortemente sua abordagem artística, e ele fez questão de honrar os símbolos e motivos dessas culturas, ajustando-os de forma cuidadosa e pessoal para cada cliente.
...E quem treinou o mestre?
Em 1976, Leo conheceu Don Ed Hardy, uma figura influente na cultura da tatuagem, que o incentivou a pesquisar profundamente sobre tatuagens tribais. Ele passava horas em bibliotecas públicas, coletando imagens e fazendo fotocópias de tatuagens nativas.
No ano seguinte, Hardy começou a tatuá-lo, e, em 1981, Leo iniciou sua própria prática, tatuando jovens da cena punk no sul da Califórnia.
As demandas desses clientes por estilos únicos o levaram a focar nas tatuagens tribais, que rapidamente se tornaram sua especialidade, marcando o início da era do NeoTribalismo.
TATTOO TIME
NEW TRIBALISM
A revista Tattoo Time, lançada em 1982 por Leo Zulueta e Ed Hardy, desempenhou um papel crucial na popularização do conceito do New Tribalism, que se tornou um marco no movimento NeoTribal dos anos 90. Essa revista visava redefinir a arte da tatuagem, apresentando estilos inspirados em tradições tribais de várias culturas, mas adaptados ao contexto moderno. Esse resgate de estilos tribais antigos refletia uma busca por uma conexão mais profunda com práticas ancestrais, mas com um olhar contemporâneo e estético voltado para o público da época.
MODERN PRIMITIVES
Em 1989, Zulueta contribuiu para o livro Modern Primitives, publicado pela RE/Search, que se tornou um marco no renascimento da modificação corporal no Ocidente. O livro não só explorava técnicas, mas também o significado cultural de práticas como tatuagens, piercings e escarificações, e ideologias que vão contra a normatividade estética. Considerado “a Bíblia da modificação corporal”, Modern Primitives inspirou uma geração a adotar essas expressões como parte de sua identidade cultural e visual.
Leo Zulueta fundou o Black Wave Tattoo em Los Angeles na década de 90, que se tornou um ponto de referência para a cena NeoTribal e o Blackwork, estilos que ele ajudou a popularizar. O estúdio rapidamente se tornou um centro para entusiastas que buscavam um visual mais impactante, conectado com grupos underground da época. Nos anos 2000, Zulueta vendeu o Black Wave Tattoo, marcando uma transição importante em sua carreira.
Em 2007, ele inaugurou o Spiral Tattoo em Ann Arbor, Michigan. Este estúdio deu continuidade ao seu trabalho focado nas peças únicas que contam histórias das pessoas, reforçando sua reputação como um dos maiores nomes da tatuagem tribal moderna. O Spiral Tattoo foi um novo capítulo na vida de Zulueta, permitindo que ele mantivesse viva a estética que ele ajudou a moldar, enquanto continuava a influenciar a cultura global de tatuagem.
A inovação de Zulueta não estava apenas na adaptação dos padrões tribais, mas também em como ele interpretava o movimento e a força do corpo humano. Isso resultava em peças que pareciam ganhar vida com cada movimento, e essa abordagem atraiu a atenção tanto de amantes da tatuagem quanto de críticos de arte, levando suas obras a serem reconhecidas em espaços como o Grand Rapids Art Museum. A presença de suas obras em museus reafirma a importância cultural e histórica do NeoTribal, como uma evolução das tatuagens tribais ancestrais.
Curiosidade
Neo-Tribalismo na Sociologia e na Tatuagem
O termo “Neo-Tribalismo” também tem uma forte conexão com a Sociologia, especialmente nos estudos de Michel Maffesoli. Ele descreveu o fenômeno de pequenos grupos sociais que se formam com base em interesses e identidades culturais compartilhadas, criando uma sensação de comunidade.
A ideia de criar uma comunidade em torno de um estilo de vida—neste caso, a na tatuagem—reflete a ideia de que essas “neo-tribos” são formadas por um desejo compartilhado de reaproximar o passado e o presente. Esse fenômeno também se reflete nos clientes de Zulueta e nos seguidores do NeoTribal, que frequentemente se identificavam com subculturas como os punks e clubbers.
Assim como as “neo-tribos” sociológicas, o movimento de tatuagem NeoTribal representava uma forma de resistência ao individualismo e um desejo de se reconectar com uma identidade coletiva. O estilo atraía aqueles que buscavam não apenas uma estética diferenciada, mas uma forma de expressão que conectava raízes ancestrais a uma visão moderna e urbana.
O Declínio do NeoTribal
Nos anos 90, o NeoTribal foi uma febre. O estilo, inicialmente autêntico e cheio de significado cultural, começou a ser reproduzido em massa, sendo banalizado e transformado em um clichê. Isso se deu em parte pelo hype que o estilo recebeu e pela falta de originalidade dos tatuadores da época, que começaram a copiar os desenhos em vez de se inspirar a criar algo próprio. Pouco depois Zulueta divulgar seus icônicos “flashes tribais” eles começaram a ser encontrados em estúdios de tatuagem por todo o mundo.
Apesar disso, o legado de Zulueta e do NeoTribal sobrevive. Ele abriu o caminho para uma nova forma de pensar a tatuagem moderna, conectando o passado ancestral a uma visão contemporânea. Embora o hype tenha sido responsável pelo declínio do estilo nos anos 2000, suas influências ainda podem ser vistas em movimentos mais recentes, como o [CyberTribalismo].
Continuação da Evolução Tribal: CyberTribal e Cybersigilismo
Embora o NeoTribal tenha perdido popularidade, o desejo de reconectar-se com a estética tribal nunca desapareceu. Na era digital, o [CyberTribal] e o [Cybersigilismo] surgiram como uma reinvenção dessas antigas tradições, adaptadas à cultura tecnológica e urbana contemporânea. Esses movimentos refletem a evolução contínua da arte tribal, que, mesmo diante da massificação e do declínio, ainda encontra formas de se reinventar e se conectar com novas gerações.
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